Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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ESCULACHO | Lambança GGG

Um texto farto. Por Alciana Paulino

Sou absolutamente

 

Gorda gorda GORDA

 

Mas isso não é um problema por si. Existem discursos, numa guerra, melados de sentimentos e de corpo e de gula e de militância. Uma verdadeira lambança.

 

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Bandeirada nxs coxinhas

 

A bandeira contra a gordofobia está hasteada, independente de tudo. Não dá para ser conivente com esse padrão estético extremamente racista, machista, anoréxico etc.

 

Bufão como sobremesa

 

Eu sou realmente gorda, não é gordinha, fofa ou (o pior de todos) cheinha. Toda vez que ouço cheinha imagino um rosto gordo, com aquela boca que acabou de comer frango, com as bochechas empanturradas numa mastigação quase transbordante. Não gosto dessa imagem.

 

Não gosto da imagem de bufão que nos foi atribuída. Não entendo a associação que se faz entre gente gorda e falta de higiene. Odeio qualquer relação entre uma pessoa gorda e imbecilidade/limitação cognitiva. Fico constrangida a cada cena em que um boy acorda ao lado de uma garota gorda depois de uma noite de bebedeira e falta de consciência.

 

Tem muita gente idiota se deleitando com essas associações estapafúrdias. Riam, idiotas!

 

É fácil ser junkie no mundo light

 

Sempre tive vontade de perguntar para um restaurante por quilo, em São Paulo, quanto vai de filé de frango por dia. Quanto de salada? As pessoas têm uma qualidade de vida de merda, mas adoram rezar a cartilha do ser saudável.

 

Nesse mundo light, posso me considerar junkie: eu como feijoada uma vez por semana, bebo cerveja e não me privo do pernil assado. Se, antes, para ser consideradx junkie você precisava de uma dedicação ostensiva ao uso de drogas ilícitas, hoje um pastelzinho com refrigerante já resolve.

 

Eita povo careta!

 

Escondidinho é gostoso ou “nada de mão dada no shopping”

 

Existe uma expressão que eu acho muito engraçada e que expressa bem a doideira dos critérios que alguns utilizam para buscar seus pares: andar de mão dada no shopping. Se antes uma pessoa gostaria de saber se alguém toparia ter um relacionamento com outra, perguntaria “dá para apresentar para a família?” (o que já era engraçado), agora o critério é se rola ostentar no shopping… Risível, não é?!

 

Meu povo, melhore!

 

Há um tempo li sobre a queerficação do corpo e do sexo com ou entre gordxs. Achei genial, pois não falta gente que queira a voluptuosa carne, mas e bancar um relacionamento?

 

Nos sites de pornografia xs gordxs estão na área dos fetiches. Muitos vídeos são encarados como bizarros. Mas o que difere o corpo gordo dos bombados, depilados, siliconados etc.?

Na tradicional sala de bate-papo do UOL existe uma área destinada a gordinhos e gordinhas. Não sei se por acaso, mas está na parte dos encontros. Note que não é na parte destinada ao sexo, nem ao namoro e nem mesmo à amizade, só encontro. Vamos avisar: escorregou feio, portal!

 

Qual receita de bolo vai usar

 

A primeira coisa que encontramos nos discursos antigordofóbicos é a valorização, aceitação e orgulho de ser gordx. Isso me ajudou a não me sentir um monstro, uma “draga” ou coisa do tipo. Se ficasse presa nesse universo do clichê, a coisa não ia ser boa para mim. Não posso negar que ter um corpo fora do padrão e com poder de transgressão me envaidece de alguma forma.

 

O que pesa é a cobrança por criar-se. Penso que é esse “faça-se a si” que contribui para que algumas pessoas se sintam no direito de dizer quem e como você deve ser. Isso é chato pacas!

 

Bebê, se você tem a receita da vida eterna ou da longevidade, guarde a sete chaves!

 

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Estou farta

 

Estou cheia deste povo querendo dizer o que é certo. Ser/estar gorda para mim é uma questão meio lambuzada, não tenho definições rígidas de como me apresentar ao mundo. Mas esta decisão eu gostaria de tomar sozinha. O que o mundo me traz contribui para a tomada de decisão, mas as regras de revistinhas que vendem cosméticos, shakes e plano de saúde não servem para mim.

 

Lambança sem fim

 

Este texto é apenas um início de conversa, pois dá tanta água na boca que não vai ser nele que esgotaremos o doce e o amargo desse assunto.

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