literatura
Bruno O, Leandro Rafael Perez, literatura, número 9, poesia
Treze jeitos de não ver um melro
Poemas de Leandro Rafael Perez
1
comprar pirulito
conforme a piranha
do dia
verde limão
não rebolar ao passar pela Kombi
2
um velho chega no meu cangote
e canta aquela alegre dos Hanson
3
correia de
capacete ausente
isso de me nascer
barba primeiro no pescoço
nuca de gueixa
hoje das bochechas
aos dedos do pé
é bastante coisa
4
calção de banho
sem cueca
pau duro
dois travecos
& três viados
eu dando voltinha neles
com a bike praia vazia
não vou dizer que foi fácil,
it gets better (rs)
esquecer a virgindade
& perder os óculos
5
meu cu não é um mito
6
APANHADO DO QUE FIZ NA ADOLESCÊNCIA:
quando um discurso se antagoniza a outro socialmente, há sempre um deles que é apreendido como default e o outro como marcado. O primeiro passo para uma boa discussão é perceber que ambos são potencialmente plenos de alteridades mútuas mas, segundo passo, é preciso cercear o que garante a um deles o status de default (ex., o machismo). Se usarmos uma metáfora cromática, poderemos notar que, além dos matizes e idiossincrasias que a todos nós afastam dos estereótipos, todo antagonismo esconde o direito à confusão e ao mistério: homem é branco, mulher é preta, andrógino é cinza e transgênero é xadrez.
VAI BRINCAR MOLEQUE
7
a homossexualidade
é promíscua sim
pra que encarar o ódio
se não for por prazer?
8
23 anos pra
pensar “gostoso”
na verdade
ainda fico vermelho
9
mishima disse que o Ocidente
não tem mais critério pro belo
masculino
disse também que
dois homens são incapazes de se sujar
estou nessa página até hoje
assim como Melanctha
e o doctor Campbell
me esperam no alto daquela escada
até hoje
10
com meu primeiro namorado
aprendi a passar xampu duas vezes
com o segundo que brinco
de pirata era brega
com alguns piratas aprendi
a rosnar
[o primeiro gole
de rum
foi quando todos vocês me amaram]
com alguns cabeleireiros
a sorrir de outros jeitos
11
gosto dos que rugem
e que ao se machucarem
gemem
gosto dos pais de família
que ao subirem escada
parecem cheerleaders
gosto mais ainda
que saibam
como os descrevo
12
minha visão sobre
sexualidade
é um ouriço
não investe
mas se defende
a chave pra lima
guardo eu
13
só me chama de putinha
quem me chama de graduada
só me chama de vadia
quem me chama de irmã
só me chama quem atendo
Leandro Rafael Perez tem 26 anos e a altura da Carmen Miranda com chapéu-coco.
Mora quase na divisa com Diadema, em São Paulo. Mantém o blogue Fumante entre cavalos.