Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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Rasto de cobra, couro de lobisomem

No mês da Copa, colocamos a masculinidade em jogo

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Quando a gente quer discutir gênero e sexualidade, quase sempre começa a falar de mulheres cis e mulheres trans, homens trans ou homens cis gays, bissexuais, e travestis, e intersex, e assexuais, e toda a imensa e colorida cartela de experiências que os corpos humanos possibilitam quando colocados em contato, quando imaginados por eles mesmos e pelas pessoas em volta.

 

Por último, nessa lista, costuma vir o homem cis hétero, aquele que vem em primeiro lugar em todas as outras listas. O símbolo vivo do patriarcado, do machismo, da violência e da opressão.

 

 

Masculinidades

 

Em mês de Copa do Mundo, a gente queria falar de um milhão de coisas. Da perseguição descarada a movimentos sociais orquestrada pelos governos municipais, estaduais e federal. Da repressão às manifestações, ainda arbitrária e cada vez mais inteligente (aprendizados pós-junho), orquestrada pela polícia. Dos terríveis legados da Copa para o Brasil, como a remoção forçada de 150 mil a 170 mil pessoas de suas casas, estimada pelo Portal Popular da Copa e das Olimpíadas. Mas como, antes dos “temas afins”, esta é uma revista sobre “gênero e sexualidade”, que melhor momento para pensar sobre o todo-poderoso macho do que este, que é o evento máximo do esporte mais macho do Brasil?

 

Longe das discussões sobre bandeirinhas e juízes, torcidas homofóbicas, misóginas e racistas, Geni decidiu buscar outras referências para pensar a masculinidade. Nossa entrevista do mês é um bom exemplo disso: conversamos com o Coletivo de Homens Antipatriarcais, grupo argentino em que homens discutem as ciladas do privilégio masculino. E traçamos um perfil da barba e do maiô de Ed Marte, o performer que vai de vestido à padaria e que junta Carnaval, protesto, arte e cotidiano pelas ruas de Belo Horizonte.

 

Buscamos também trazer diferentes vivências da masculinidade pro nosso rebolado. Fábio Emecê fala sobre o pesado machismo que o homem preto tem que carregar sobre os ombros, e um lindo depoimento de um amigo – que preferiu permanecer anônimo – mostra que ser e parecer heterossexual não são a mesma coisa, e que existe vida além das bordas da sociedade. Henrique Codato faz uma análise cinematográfica do desejo homoerótico entre homens, e Marcos Visnadi faz uma incursão nas camuflagens da virilidade militar.

 

Caravana Climática

 

Além de tudo isso, estamos felizes por inaugurar, nesta edição, uma série de reportagens que Juliana Bittencourt pretende fazer mensalmente em sua viagem com a Caravana Climática, uma ação itinerante que está percorrendo a América Latina em direção à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorrerá em dezembro deste ano em Lima, Peru.

 

Juliana, que já escreveu na Geni sobre as mulheres zapatistas, contará sobre seus encontros com associações de mulheres, coletivos e individualidades feministas e outros temas afins, enquanto visita comunidades em luta por justiça climática. Nesta edição, ela nos apresenta a situação atual do julgamento de genocídio do povo Maya, perpetrado por décadas de governos repressores conectados com empresas estrangeiras e políticas desenvolvimentistas em cena na Guatemala.

 

Coletivo Geni, julho de 2014

Ilustração: Emilia Santos

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