Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

mídia & feminismo

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Blogueiras feministas e os desafios de uma mídia ativista

Quanto mais divulgamos ideias feministas, mais vemos surgir outros espaços de questionamento do funcionamento da sociedade. Por Bianca Cardoso, Iara Paiva, Jussara Oliveira, Liliane Gusmão, Luciana Nepomuceno, Patrícia Guedes, Priscilla Brito e Thayz Athayde, da equipe de coordenação do Blogueiras Feministas

Publicado em 17/09/2015

 

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O Blogueiras Feministas nasceu do encontro de um grupo de feministas que discutia política antes do primeiro turno das eleições de 2010 e queria se articular a partir do debate de questões políticas relacionadas às mulheres.

 

Com o crescimento das discussões, via troca de e-mails, Cynthia Semiramis criou o grupo Blogueiras Feministas na internet. O blog surgiu pouco tempo depois, pela necessidade de divulgar as discussões geradas no grupo, e também como tentativa de ampliar esse debate para as pessoas que não participavam do ambiente on-line.

 

A partir da reestruturação do blog e da criação de um conselho editorial, tentamos traçar uma plataforma de aprendizado e difusão de um feminismo inclusivo, interseccional, antipunitivista e questionador.

 

Cinco anos depois do começo do nosso grupo na internet, é possível identificar muitos frutos do tipo de plataforma de interação surgido naquele outubro de 2010. Vemos e festejamos diversas iniciativas de mulheres que ocupam o espaço na internet e discutem feminismo, questionam a mídia tradicional e propõem formatos de criação de conteúdo sobre o tema e/ou com enfoque feminista.

 

 

Visibilidade e disputa

 

Para nós, ter o blog significa ter um espaço para questionar a informação que é difundida pela mídia tradicional e divulgar nossas percepções e divergências sobre as regras sociais estabelecidas. É muito importante essa disputa e ela tem se mostrado muito profícua. Quanto mais divulgamos ideias feministas, mais vemos surgir outros espaços de questionamento do funcionamento da sociedade, bem como a criação de novos grupos de pessoas evidenciando os problemas de gênero no seu meio de convívio direto.

 

A proposta do nosso blog é dar visibilidade aos pontos de vista dos indivíduos que não são contemplados pelos veículos estabelecidos da mídia tradicional. Uma proposta de texto para refletirmos sobre como nossa sociedade e nossa cultura estão estruturalmente baseados sobre a constante submissão de alguns indivíduos em detrimento de outros.

 

O maior desafio hoje é manter esse compromisso de interseccionalidade, desconstrução de privilégios e questionamento de maniqueísmos, dicotomias e preconceitos que a sociedade e nós mesmas, enquanto parte dessa sociedade, reproduzimos — além de sermos um espaço não comercial e não lucrativo, mantido totalmente pelo esforço voluntário do conselho editorial, assim como das autoras que publicam no blog.

 

 

Ativismo e trabalho voluntário

 

A partir do tema proposto para esse artigo — os desafios de manter o nosso espaço na internet de forma não lucrativa e totalmente voluntária —, pensamos nas iniciativas que existem na internet de sites e blogs de esquerda encabeçados por homens: quantos deles não são lucrativos? Feitos e geridos de forma voluntária sem nenhum tipo de geração de rendimento? Acho que um bom ponto de partida para pensarmos sobre o gênero na mídia independente é exatamente esse viés. Muitas vezes, ao discutirmos possibilidade de inclusão de publicidade no blog, nos questionamos se essa inclusão não iria tirar o foco, deslegitimar nossa militância, ou mesmo tirar a coerência do nosso discurso. E isso não parece ser uma questão para os sites e blogs feitos por homens. Porque na nossa sociedade é normal que homens tenham a sua força de trabalho remunerada. Da mesma forma que é normalizado que mulheres trabalhem sem nenhuma ou com uma remuneração menor do que a dos homens.

 

O ativismo e o trabalho voluntário acabam se tornando mais uma carga de trabalho, além de tantas outras que as mulheres e pessoas de outros grupos marginalizados já têm de conciliar. E assim o desafio se torna ainda maior, pois contamos no blog com uma força de trabalho que depende de tempo, saúde e disponibilidade que já são dedicados a muito custo para essas pessoas subexistirem.

 

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