Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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Desafio LGBT com candidatxs às eleições 2014

Estivemos no lançamento do manifesto por políticas públicas inclusivas. Por Gui Mohallem

Na última quarta-feira, dia 03 de setembro, foi lançado o Desafio LGBT para as Eleições 2014, que aconteceu no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo, na capital paulista). O evento foi organizado pelos coletivos Pedra no Sapato, Juntos, RUA, Juventude do PSTU e pelos candidatos a deputado federal Bill Santos e a deputado estadual Todd Tomorrow. Nós da Geni fomos lá conferir o debate, que teve presença de dois candidatos à presidência e de ativistas importantes como Daniela Andrade, Laerte Coutinho e Maju Giorgi.

 

Para um debate acontecer efetivamente, ele precisa de opiniões divergentes, o que não era exatamente o que acontecia ali. Mas a mesa foi boa, com falas mais ou menos complementares.

 

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O mestre de cerimônias foi o cantidato a deputado federal Bill Santos, que trazia leveza e humor a assuntos bem sérios, sem abrir mão do bom pajubá.

 

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Falando em nome das Mães pela Igualdade, Maju Giorgi apresentou dados estarrecedores: segundo ela, a expectativa de vida da população LGBT no Brasil é de apenas 36 anos. Como é possível não haver políticas públicas direcionadas a um segmento da população tão ameaçado? Para que vocês tenham ideia do tamanho das atrocidades que são cometidas contra a população LGBT no Brasil, recomendamos a leitura do Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil 2012-2013.

 

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Zé Maria, candidato à presidência pelo PSTU, declarou o apoio aos direitos LGBT como parte de uma política de direitos humanos de seu partido, e assinou a carta compromisso com a luta pelos direitos civis LGBT.

 

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O candidato a governador pelo estado de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni, que é jornalista e cartunista, teve uma ação reflexiva interessante. Contou como durante muito tempo de sua juventude “para desqualificar uma pessoa tinha feito uma charge dela desmunhecando”.

 

Nessa hora, Laerte gritou do fundo: “Eu também!”. “Era uma idiotice minha! Não tinha noção do tamanho do dano que poderia causar”, reconheceu Maringoni.

 

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A ativista trans* Daniela Andrade disse que a prostituição é um dos maiores estigmas da população transexual, sobretudo por falta de acesso à educação e ao mercado de trabalho formal. Daniela ressalta, contudo, que não vê problema algum na prostituição, que, aliás, deveria ser regulamentada e reconhecida como profissão, desde que seja uma escolha e não a única alternativa de sobrevivência das transexuais.

 

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A candidata à presidência da república do PSOL, Luciana Genro, também fez uma intervenção bastante engajada, declarando que acreditava que os “homofóbicos eram enrustidos”, pois para ela era difícil não compreender a origem de tanta violência e tanta agressividade”. Essa fala arrancou risos da platéia de quase 400 pessoas reunidas ali.

 

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Daniela Andrade, que não havia se manifestado ali naquela ocasião, reagiu fortemente em sua página no Facebook, postando o seguinte comentário:

 

Eu discordo completamente da afirmação da Luciana Genro de que os homofóbicos seriam gays enrustidos.

 

É o mesmo que isentar todos que não sejam gays da prática homofóbica, dado que para ser homofóbico, necessariamente estaríamos falando de alguém gay.

 

Acho que é até uma ofensa aos gays essa afirmação, uma vez que os coloca no mesmo nível de seus carrascos. Ou como se seus carrascos fossem apenas eles mesmos, culpando-os pelas mazelas que sofrem: não teriam educado os próprios gays devidamente, caso assim fosse, não teríamos homofobia.

 

Há pessoas homofóbicas de todas as orientações sexuais, pois a ignorância e o preconceito atinge a todos os grupos sociais. Todos nós nascemos em uma sociedade homofóbica, somos constantemente instados a tratarmos  homofobia com naturalidade, tratar gays como inferiores, é claro que será muito fácil encontrar pessoas homofóbicas.

(…)

 

Num ato que simboliza muito bem esse diálogo que se abriu com a comunidade LGBT, Luciana respondeu à ativista, reconhecendo seu equívoco.

 

“Tens toda razão, Daniela. Minha intenção não foi isentar ninguém. Além disso, generalizações são sempre injustas. Vamos seguir a luta! Obrigada pela contribuição ao meu discurso. Vou ser mais cuidadosa! Um beijo! “

 

Os principais pontos do Desafio LGBT assinalados pelos candidatos foram a climinalização da homofobia, a aprovação da Lei de Identidade de Gênero João Nery, a aprovação de uma lei que garanta o casamento civil igualitário, a desobstrução da adoção por LGBTs, serviços direcionados na área da saúde, entre outros.

 

Com o objetivo de auxiliar no encaminhamento dessa agenda e promover a circulação dos nomes dos políticos engajados com questões da comunidade LGBT, foi lançado, no dia 8 de setembro deste ano, o site #VoteLGBT, que lista os candidatos declaradamente compromissados com essas pautas em seu material de campanha. O site, suprapartidário e de abrangência nacional, pretende ajudar a aumentar a representação LGBT no parlamento e nas assembleias estaduais, o que afetará diretamente nossas possibilidades de obter avanços em termos de políticas públicas.

 

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Participe você também, seguindo a página do #VoteLGBT no Facebook. Ajude a divulgar! Essa iniciativa tem o objetivo de mudar a atual ausência de debate e difusão de elementos da pauta LGBT, mas só vai funcionar se a gente conseguir divulgar!

 

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Foto: Gui Mohallem.

Ilustração: Cecilia Silveira.

 

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