Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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Quem somos

O manifesto do Nós, Mulheres da Periferia

Texto publicado originalmente no site do Nós, Mulheres da Periferia. Publicado na Geni em 17/09/2015.

 

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Somos maioria. Somos minoria. Pobres, pretas, brancas, periféricas. Migrante, nordestina, baianinha, quilombola, indígena.

Somos aquela que, depois de 8h de trabalho e 4h no transporte público, – “Dá um passo mais pro fundo, colega”, que ainda passa a roupa e nina o bebê.

Mas mesmo assim arruma tempo para o lazer. A novela, a música, a dança, o livro, anestesia, faz sonhar, faz esquecer.

Somos quem tira a toalha molhada de cima da cama, e leva os copos para a cozinha. – “A janta tá pronta?”

Somos as mães que trabalham para as filhas estudarem.

Somos as filhas que se formam na universidade para as mães voltarem para a escola.

Somos operárias, empreendedoras, manicures, jornalistas, costureiras, motoristas, advogadas.

Somos esposas, mães, irmãs, primas, tias, comadres, vizinhas.

Somos a menina que não pode brincar de bolinha de gude, nem de carrinho de rolimã.

Somos a irmã que cuida dos irmãos mais novos até a mãe voltar do serviço. E que lava a louça do almoço enquanto o irmão vai jogar bola.

Somos a novinha insegura que esconde que ainda tem vontade de pular amarelinha, e se produz pra impressionar no baile. E lá desce até o chão.

Somos aquela que, quando o cara pede, faz tudo o que ele quer. – “Piriguete, piranha, vaca, vadia, vagabunda, puta”.

Somos quem não pode andar sem acompanhante na rua à noite.

Somos proibidas de frequentar os bares e botecos.

Somos aquela que não pode ter amizade com alguém de outro sexo.

Somos aquela que é criticada por não ter marido.

Somos apontadas na rua ao buscar camisinha no posto de saúde.

Somos culpabilizadas por filhos indesejados.

– “Quem garante que esse filho é meu?”

Somos mães solteiras que registram os nomes dos filhos de pais “desconhecidos”.

Somos as “mãezinhas” que gritam nos corredores da maternidade. – “Na hora de fazer não  gritou!”.

Somos avós que criam os frutos da gravidez na adolescência.

Somos aquelas que amam os filhos da patroa.

Somos quem dá conta do recado quando nossos homens faltam. As que seguram as pontas quando são presos.

Somos quem chora quando nossos filhos são mortos por serem suspeitos.

Somos mães de maio, de junho, setembro…

Somos quem vai ao posto atrás de remédio e pra agendar consulta pra daqui a cinco meses.

Somos quem cria os abaixo-assinados para pedir creches.

Somos quem trabalha em mutirão carregando bloco e fazendo marmita.

Somos quem denuncia que a vizinha apanha do marido.

Somos amor, perdão, paciência, doçura, fortaleza. Somos esperança.

Somos Nós, mulheres da periferia!

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