ensaio
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As Crianças
Juízxs, acadêmicxs, especialistas e ativistas ficam se perguntando como filhxs são afetadxs por ter pais gays. Talvez seja hora de perguntar às crianças. Por Gabriela Herman, de Nova York.
Minha mãe é gay. Mas eu levei muito tempo pra conseguir dizer essas palavras.
Ela saiu do armário mais ou menos 20 anos atrás quando eu estava no colegial. Meus pais logo se separaram e minha mãe acabou se casando com sua parceira de longa data em uma das primeiras uniões legais de Massachussets. Foi uma época bastante difícil . Eu mal falei com ela durante o ano em que estudei fora. Parecia ser um fato que precisava ser escondido, especialmente dos meus amigos da pré escola. Nossa família era muito unida, mas essa questão era tabu entre a gente. Meus irmãos mais novos estavam lidando com as mesmas emoções, mas a gente não conseguia conversar sobre o assunto.
Cinco anos atrás, então com 29, embarquei em um projeto para encontrar, fotografar e entrevistar pessoas com histórias similares. Mesmo tendo vivido ao redor do mundo, nunca tinha encontrado ninguém que tinha sido criadx por um pai ou mãe gay. Quando contei da idéia pra minha irmã em São Francisco, ela me conectou com o grupo COLAGE, a única ONG americana focada em apoiar filhxs de pais LBGTQ.
Danielle Silber, que tem ao todo seis pais e mães e que se tornou a organizadora do grupo, logo me convidou para seu apartamento no East Village. Sua sala estava repleta de jovens que contavam as histórias de suas próprias famílias “saindo do armário”. Desde aquela noite, documentei as histórias de dezenas de pessoas e encontrei outras tantas. Cada retrato e entrevista acabou se tornando pra mim — e de uma maneira bastante inesperada — uma sessão de terapia.
Nas conversas, lembrávamos de como tivemos que fazer malabarismos entre o silêncio e o isolamento. Tínhamos que defender nossas família no recreio, na igreja e nas festas de fim de ano. Cada história tinha pelo menos um aspecto que ressoava com minha experiência e isso me ajudou a diminuir minha sensação de solidão.
Minha experiência foi fidícil, sem dúvida, mas tenho esperança que com a próxima geração já vai ser diferente. Essa desigualdade vai desaparecer e meus futuros filhos vão ficar se perguntando o por quê dessa confusão toda.
Pra conhecer a história do Luke e das outras pessoas que a Gabi encontrou clique na foto abaixo.
Tradução: Aline Sodré, Gui Mohallem, Mariana Kinjo, Otávio Chamorro.