Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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FARÓIS ACESOS | Tem gente que perdeu a chave do cu

Mesmo daqui do camarote tá dando para escutar os latidos assustadores do pessoal do bonde do recalque. Por Neusa Sueli

Dona Neusa estava gozando de (nas) férias, mas a gente teve que lembrá-la que a militância não acaba nunca (#voltaneusa). Voltando à passiva depois de dois meses de esbórnia, sexo e pompoarismo com wreckling ball (#beijinhonoombromileycyrus), Dona Neusa Sueli está mais (larga) sangue nos zóio que nunca.

 

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Estava lá eu curtindo minhas #boasférias, meus #bonsdrinks e engatando em todos os trenzinhos (e carros alegóricos) no Carnaval, quando o pessoal da Geni me lembrou que eu tinha que voltar para a realidade. Só voltei mesmo porque amo elxs: tô toda trabalhada no creme Fernegan e na brotoeja (#assadamasfeliz). Dessa experiência, fica um aprendizado: usem protetor solar, gente. É sério.

 

Enfim, peguei um Pássaro Marrom, desci a serra lynda e peluda, e deixei Passivárgada para trás. E vambora que a falta de noção cresce mais rapidamente do que a fome no mundo e eu já tô nervosa de ter que ver a quantidade de merda que vocês fizeram enquanto eu estive gozando nas minhas férias.

 

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Uganda

 

Em 24 de fevereiro, foi ratificada em Uganda uma lei (que já tramitava no parlamento do país desde dezembro de 2013) que criminaliza e pune duramente a homossexualidade ou qualquer tipo de prática com pessoa do mesmo sexo (releiam a matéria do nosso lindo e absoluto editor Marcos Visnadi para entender do que eu estou falando). Sim: EM DOIS MIL E QUATORZE a anta – perdão aos simpáticos animaizinhos do gênero Perissodactyla – do presidente do país africano, Yoweri Museveni, ratificou uma lei que inflige penas duríssimas (até 14 anos de reclusão) ao que a lei denomina como “atos homossexuais” ou “promoção e reconhecimento” de tais atos.

 

Não bastasse esse absurdo (que fez com que Uganda passasse a sofrer retaliações econômicas por parte dos EUA – de quem o país recebe uma ajuda financeira considerável – e de vários outros países europeus), um tabloide local chamado Red Pepper divulgou uma lista com 200 personalidades homossexuais no país, o que, vocês devem imaginar, gerou pânico na comunidade TLGTB local. A Holanda, aliás, ofereceu asilo aos homossexuais ugandenses que eventualmente deixassem o país (agradeço ao companheiro Thiago Nagafuchi pela informação #neusaégentequelê).

 

Francamente, eu já nem sei mais o que dizer. Minha vontade é aproveitar as técnicas de pompoarismo com wreckling ball que desenvolvi durante as férias para jogá-las na cabeça desse povo, sem chuca prévia. Minha gente: deixem minhas irmãs e irmãos ugandenses em paz! Gente, eu não consigo me conformar com tamanho absurdo! Vocês são desumanos, cruéis!

 

Não sei mais o que dizer ou pensar. Cada vez que vejo como a nossa situação no mundo (ora na Rússia, ora em Uganda, ora na Comissão de Direitos Humanos, ora no centro de São Paulo) vem piorando, a vontade é de sentar e chorar.

 

Mundo: um pedaço de terra cercado por merda e ventilador por todos os lados.

 

Eu tô aqui tentando pensar em algo a dizer, em fazer uma reflexão sobre essa situação toda, mas só me vêm palavrões e imagens tristes à cabeça. Tá foda, gente. Eu ponho a Valeska Popozuda (#amo#sou) para tentar buscar estímulo, mas mesmo daqui do camarote tá dando para escutar os latidos assustadores do pessoal do bonde do recalque. E, parafraseando a cantora dos anos 80 Cate Blind, não está sendo fácil.

 

Dr. Bola Murcha: Murisonso Ramalho

 

Em 27 de fevereiro, o técnico do São Paulo, Muriantacy Ramalho, teve uma discussão com um dos jogadores do time durante um jogo e soltou uma pérola do machismo nosso de cada dia: “Isso aqui não é jogo de menina, é jogo duro. Não tem que falar ‘por favor, como você está?’. Tem hora em que tem que falar duro, senão depois você perde e fica chorando”.

 

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Acho engraçado que ainda hoje tem gente que associe educação a algo exclusivamente feminino (perguntar “por favor, como você está” é uma questão de trato social, de respeito, e não de fraqueza) e, o que é pior, considere feminino como sinônimo de fragilidade. Deve ser dura a sua vida, hein?

 

Se bem que dura vai ser a benga dundun que eu vou pegar para dar na sua cara, com duas jabulanis imensas batendo na sua garganta. Presta atenção nas merdas que está falando, sua anta!

 

Apesar de estar sempre correndo atrás de umas bolas, eu não gosto de futebol e menos ainda de técnico imbecil. Mas depois de ler essa merda de declaração misógina e sexista, eu me dei ao trabalho de fazer uma pesquisa rápida sobre o sucesso do futebol feminino brasileiro, e sabe, Muriçoca, acho que tá na hora de você se aposentar. Se seus jogadores jogassem jogo de meninas, acho que talvez você conseguisse ser um ser humano menos pior (sim, essa declaração infeliz vai fazer você ir diretamente para o Umbral, seu perispírito trevoso!).

 

Então, queridinho, faz o seguinte: dá uma olhadinha no nosso “jogo das meninas” e se inspira. E desculpe se eu estou sendo muito ríspida… mas, sabe como é: “Tem hora em que tem que falar duro, senão depois você perde e fica chorando”. Aliás, você perdeu, sim, mas foi sua noção – e faz tempo. E chora no nosso gingado, na nossa leveza e nos nossos títulos também, queridinho.

 

Azul é a cor mais quente, mas vermelha vai ficar a sua cara!

 

Estava eu me atualizando sobre todos os babados e filmes (x-rated [risos lascivos] e do circuito normal) que estiveram em cartaz desde que eu entrei em gozo de férias, e me deparei com o lindíssimo Azul é a cor mais quente – adaptação de uma história em quadrinhos com o mesmo título, de autoria de Julie Maroh.

 

É um primor, gente – todxs têm que ver. É daqueles filmes que tem que ter em DVD em casa, sabe? Só não o DVD brasileiro, porque as produtoras que fabricam os DVDs no Brasil (no caso específico deste filme, a Sonopress e a SONY DADC) se recusaram a comercializar o filme (ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 2013, aliás) em sua integralidade, certamente porque essa obra-prima contém cenas de sexo entre duas mulheres – maravilhosas, diga-se de passagem (#vemnimim, amigues) –, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.

 

É demais, né, gente? Vocês estão vendo que eu não exagero quando digo que o ser humano não deu certo? Como diria a maravilhosa Elke Maravilha (desculpem o pleonasmo), “tem gente que perdeu a chave do cu” (interpretem como preferirem).

 

Produzir filme violento (daqueles que se chacoalhar o DVD sai sangue), racista e homofóbico pode, né? Para isso não deve ter nenhuma “cláusula contratual sigilosa” para a produção do DVD – segundo a direção da Sonopress. Agora, quando o que está em questão é um filme que – como bem afirmou o diretor Abdelatif Kechice –, antes de tudo, é “uma história de amor entre duas mulheres”, aí não pode, aí tem problema.

 

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Vocês produzem DVDs da Disney e vêm aqui na MINHA CARA FALAR QUE AZUL É A COR MAIS QUENTE É UM FILME INADEQUADO? É SÉRIO? QUAL O CRITÉRIO – se é que vocês têm algum? Prestem atenção, suas múmias! Mais quente vai ficar a cara dos diretores dessas produtoras na hora em que eu encontrá-los, bando de zigoto que não deu certo!

 

Até quando a gente vai ter que viver com isso, hein, gente? Não dá para pôr esses gigantes para dormir de novo, não?

 

***

 

Post scriptum: agora que até beijo gay já teve em novela, vamos ver se o pessoal aprende a beijar direito. Porque anda puxado, sabe gente.

anus

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