Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

política

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Marcha das Vadias Amapá

Por que marchamos.

 

 

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Marcha das Vadias: no Amapá as vadias também marcham

 

A Marcha das Vadias, em sua primeira edição, ocorreu muito longe de Macapá: foi em Toronto, no Canadá. Depois de vários registros de estupros em campi universitários, a polícia, prestando seus caros serviços à população, foi dar palestras sobre violência e cuidados que as mulheres deviam tomar no sentido de evitar assaltos, agressões e estupros. Eis que soa como um chamado à guerra a declaração do policial palestrante:: “Me disseram que eu não deveria falar isso, entretanto, as mulheres deveriam evitar se vestirem como vadias para que não sejam atacadas”. Um infinito desserviço à luta das mulheres do mundo. Vestir uma roupa curta, usar maquiagem, sair à noite, tomar umas cervejas, exercer a sexualidade de maneira libertária… Todos esses argumentos já foram usados como desculpas nojentas, no entanto “aceitáveis”, para justificar uma mulher violentada.

Imagine você, mulher, estudante, dentro de um espaço que é considerado um templo de conhecimento e cultura, pensando em suas companheiras ou nas desconhecidas violentadas pelo mundo afora, por serem mulheres, e por nenhum outro motivo além disso. Imagine você, dona de casa, trabalhadora doméstica, professora, profissional liberal, camelô, verdureira, manicure.  Imagine você, sua mãe, sua filha, sua vó, sua prima, sua tia, sua vizinha. Imagine você, que acha que nunca foi violentada, mas que no fundo reconhece que em algum momento da sua vida, num ônibus lotado, num consultório médico, no local de trabalho, em casa, na rua a caminho da padaria, da feira, da academia, já se sentiu ameaçada, despida à força, violada em seus direitos e dignidade.

Acontece que a declaração do policial impulsionou de alguma maneira a Marcha das Vadias. Começou no Canadá, mas ganhou outras cidades. Ganhou versões, agregou pautas, conquistou corações e mentes para o enfrentamento à violência, a luta contra as opressões e a construção de um mundo melhor.

No ano de 2012, após observar as mobilizações em diversas cidades do Brasil e do mundo, Rebecca Braga resolveu chamar abertamente várias mulheres e coletivos a organizar a Marcha das Vadias em Macapá. Agregando um grande número de ativistas e apoiadoras, neste texto escrito a varias mãos, vimos falar por que nós vadiamos, vimos explicar e responder às perguntas que constantemente nos são feitas: queremos empoderar as mulheres de nossa cidade, de nosso estado, queremos dar voz para as que não podem falar, queremos construir um novo mundo para as mulheres que ainda virão.

 

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A Marcha das Vadias Amapá se organiza principalmente através das mídias sociais, por grupos e páginas do Facebook, e-mail, grupo no WhatsApp. Nesses espaços resolvemos coisas imediatas como a participação da Marcha em eventos e reuniões de outros coletivos/organizações e organização de eventos realizados pela Marcha das Vadias Amapá. Por meio da mídia também há difusão e discussão de informações sobre acontecimentos no Amapá, Brasil e mundo que afetam as mulheres. Através destas mídias marcamos encontros presenciais para outras discussões e para abrir espaço para que outras pessoas conheçam o movimento e venham somar conosco na Marcha. O evento regular que fazemos é o Feminique, um piquenique feminista. Através do Facebook divulgamos o evento em vários espaços para que novas pessoas participem e conheçam o significado da Marcha e suas pautas.

 

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A Marcha das Vadias Amapá acontece entre os meses de maio/junho e durante o ano procuramos organizar e participar de eventos de forma a nos fazer presente nos espaços acadêmicos, sociais e políticos, para apresentar a Marcha e frisar sua relevância. Promovemos eventos em datas significativas para o movimento feminista e para as mulheres, com enfoques específicos como violência contra a mulher, aborto, autonomia do corpo etc.

A Marcha das Vadias Amapá é um movimento apartidário, as mulheres que compõe o coletivo são de partidos políticos diferentes e algumas apartidárias. Sempre deixamos evidente isso: a não necessidade e o não envolvimento da Marcha e de suas militantes em partido político específico, deixando isso a critério de cada componente. Sempre que possível, buscamos nos juntar com outros movimentos, participando dos eventos e discussões de outros coletivos para assim ter uma conversa mais ampla.

 

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A Marcha das Vadias Amapá vem se apresentando como um importante instrumento da luta pelo fim da cultura do estupro no Amapá. Compreendemos que a cultura do estupro é o que coage as mulheres a se comportarem, se vestirem, a não andarem ou frequentarem determinados lugares e, caso a mulher quebre este ciclo de comportamento padrão, ela é culpabilizada e seu próprio comportamento serve de legitimação e justificativa à violência sexual/moral e assédio. Nós usamos nosso corpo como bandeira, como instrumentos de reivindicação e questionamento à ordem. Ocupamos as ruas com cartazes, bandeiras e palavras de ordem pelo direito à liberdade e à autonomia sexual. Pautas gerais do feminismo são amplamente defendidas e debatidas por nós: lutamos contra o feminicídio, lutamos contra a violência, defendemos a legalização do aborto, debatemos acerca da regulamentação da prostituição, questionamos os padrões de beleza impostos pela mídia. A Marcha das Vadias Amapá convida as mulheres a amarem a si e entendemos que a MdV AP é um momento de celebração do corpo, celebração da sexualidade e das liberdades femininas.

 

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Por que Marchamos?

 

Em Macapá, a cada 12 minutos uma mulher é agredida. No Brasil, foi preciso criar uma lei para defender as mulheres da violência doméstica e familiar. Porque uma em cada três mulheres será agredida ou violentada em algum momento da vida. Porque estima-se que, no mundo, mais de  1 bilhão de mulheres já foram agredidas ou violentadas.

Marchamos porque vivemos numa sociedade que paga menos para as mulheres e menos ainda para as mulheres negras. Porque não há estado laico que garanta nossos direitos reprodutivos, muito menos a condição de escolha de ser, ou não, mãe. Porque a educação é sexista e atua na reprodução dos preconceitos de gênero.

Marchamos porque queremos libertar a nós mesmas, as nossas filhas e as filhas do mundo. Marchamos por liberdade, marchamos porque acreditamos na sororidade entre nós, irmãs do mundo. Marchamos não só no momento da Marcha, marchamos no dia a dia. E, quando nos chamarem de vadias, não pensem que isso é uma ofensa, pois se ser livre e feliz é ser vadia, então somos todas vadias!

Marcha das Vadias Amapá

Adriene Neves, Cibelle Bastos, Raysa Nascimento e Rebecca Braga

 

 

 

 

MAIS INFORMAÇÕES:

Eu, vadia.

Slut Walk Toronto

NASCIMENTO, R. BASTOS, C. SOARES, A.C. P. M. Pôster: V@dias marcham por autonomia do corpo feminino. 2014, II Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas, UnB.

BASTOS, C. NASCIMENTO, R. Vadi@S: Um termo, dois significados. Uma Análise da Marcha das Vadias como instrumento de desconstrução e ressignificação. 2014, VII Congresso Internacional de Estudos sobre a diversidade sexual e de gênero da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura, FURG.

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