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Miradas Criticas del Territorio desde el Feminismo
Nosotras acreditamos no postulado de coletivizar e entendemos o verbo como criação conjunta de conhecimentos, militâncias, afetividades e da própria vida. Do Equador
Aurélia de Souza | Autorretrato | c. 1900
A partir de diversas disciplinas e espaços – somos estudantes, professoras, pesquisadoras e, principalmente, críticas -, nos encontramos para discutir e trabalhar temas de diferentes índoles: a soberania alimentar, o extrativismo, metodologias feministas, experiências de desenvolvimento endógeno, a relevância do sumak kawsay [expressão em kichwa que significa aproximadamente bem viver]. Assim, os principais temas que têm permeado as discussões em nossos debates durante esse tempo giram em torno das metodologias de trabalho de campo e da pesquisa-ação-participativa.
Nos reunimos com a intenção de pensar questões dentro e fora da academia com uma lente mais prática e incidente, pois não acreditamos que seja possível uma evolução transformadora das realidades locais partindo dos esquemas de intervenção planificada para o desenvolvimento. Da mesma forma, consideramos que iniciativas que não levam em consideração as relações de poder internas e normativizadas das comunidades estão condenadas a reproduzir os padrões de poder e, consequentemente, reproduzir desigualdades.
Portanto, sentimos a necessidade de nos vincularmos – partindo das distintas perspectivas, práticas e territórios de onde viemos – como grupo de estudo sobre a realidade equatoriana e latino-americana em questão de território a partir do feminismo. Assim, nosso grupo traduz olhares e culturas para o posicionamento pela vida que aposta em diálogos mais visíveis e encarnados, a partir de uma afirmação coletiva, crítica e política.
Miradas Criticas del Territorio desde el Feminismo é um coletivo que reivindica os princípios básicos esquecidos pelo pensamento racional hegemônico.
O primeiro se baseia na recuperação do trabalho com o corpo, não apenas como veículo, mas como ferramenta criativa, emancipatória e criadora de conhecimentos. Acreditamos que o corpo tenha sido despido de sua sensibilidade, sua carne, suas vísceras, misérias, gozos e seus prazeres. Portanto, nosotras o colocamos como central em nossos diálogos e metodologias. Queremos que o corpo fale “por si” e é nesta abertura onde encontramos a emergência da rebeldia para a construção de “outros” mundos possíveis. O corpo assim é considerado território de luta que parte de sua vivência, um território geográfico compartilhado.
O segundo princípio é a coletividade, fundamento essencial para os feminismos do sul. Nos distanciamos da ideia de reificar o indivíduo como o único ente da “modernidade” por acreditarmos que esta ideia tenha implicado que umas vidas (principalmente aquelas que se baseiam no modelo do homem branco, heterossexual) sejam mais possíveis que outras.
Nosotras acreditamos no postulado de coletivizar e entendemos o verbo como criação conjunta de conhecimentos, militâncias, afetividades e da própria vida. Este princípio nos leva a criar pontes e articulações com outros movimentos, principalmente de mulheres e feministas, para em conjunto gerar condições que possibilitem transformações sociais, políticas e ambientais que atravessem nossa corporeidade, subjetividade e intersubjetividade e seja possível a emergência de sujeitxs com raiva digna.
Estes princípios se convertem em nossas estratégias de ação emancipatória, na atual conjuntura em que vivem os países do sul. Nosotras enquadramos esses postulados na defesa por territórios – criativos e habitáveis.
Primeiro porque afirmamos que os corpos são territórios vivos e históricos que fazem alusão a uma interpretação cosmogônica e política. Segundo, porque acreditamos que o território como corpo social deve estar integrado à rede da vida e, portanto, ser visto como “acontecimento ético”* e, por último, consideramos que os territórios coletivamente ressignificados permitem a possibilidade de criar caminhos novos e emancipatórios onde as desigualdades entre mulheres e homens e entre os povos são diluídas.
[*] Entendido o acontecimento ético como uma irrupção frente ao “outro” onde a possibilidade de contato, dominação e poder não tenham lugar. A acolhida entendida como responsabilidade é a única proposta viável para olhar o território.
Coletivo Miradas Criticas del Territorio desde el Feminismo
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