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ESCULACHO | Siririca
Se toca, meu povo! Por Lucy Lima
Este texto fala de siririca. Vejam bem, não é de autoerotismo, autoestimulação, autoconhecimento, masturbação feminina, estímulo genital ou prazer solitário. É chegada a hora de afastarmos os discursos médico, religioso e moral. Vamos arrebatar essa ideia, Brasil!
Não preciso dizer que a boa e velha punheta é mais popular que a siririca. Eu demorei 16 anos para conhecer o termo e 18 para acertar a prática. Na época até a minha irmã, seis anos mais nova, já conhecia. Tirando o meu atraso, o fato é que nós, mulheres, falamos pouco sobre isso, trocamos poucas experiências e não ensinamos umas às outras.
Não é tão incomum encontrarmos o assunto em revistas femininas, mas, muitas vezes, o que vemos é um discurso médico com layout moderno, aquele papo sobre o bem-estar e a qualidade de vida. Se eu me toco e me esfrego é por prazer, e não há nada errado ou mal nisso. Mas divulgar a ideia do “sinta prazer” ainda parece muito subversivo para muitas publicações; então, o que elas fazem é explorar a ideia do autoconhecimento. Até ai, tudo lindo. Mas esse autoconhecimento geralmente é instrumentalizado para um momento seguinte que é o encontro com x outrx. Errado!
Mas tratar o assunto já não é um avanço? Até concordo, mas não é o bastante.
Quantos discursos religiosos condenam a prática? Gerando culpa, desconfiança e medo em muita gente. A ideia do pecado ainda assombra. O discurso da saúde traz mais uma vez o medo, agora o do descontrole, da compulsão e até da loucura. E xs moralistas? Isso é uma pouca vergonha! Safadeza! E não falta quem jogue pedra. Independentemente da identidade de gênero ou da sexualidade, todxs nós, cedo ou tarde, nos deparamos com isso. Mas o caso da mulher é especial.
Há uma disputa gigantesca entre os discursos para saber quais são os prazeres legítimos. E compete a cada uma de nós deliberar. Para a sua vida, cabe uma siririquinha de vez em quando? Todo dia? Antes do trabalho? No banho? Depois do protesto? Eu prefiro antes de dormir.
Como mulheres independentes e que lutam por esta independência há séculos, quem tem que decidir quais os prazeres são legítimos em nossas vidas somos nós.
Para escrever este texto fui ao dicionário para saber se a palavra era dicionarizada ou não. É: sucesso! Encontrei isso aqui sobre a etimologia (histórico das palavras) – por mais que a origem seja duvidosa segundo o Houaiss, achei a imagem interessante: “sididika – posição do corpo em que se ergue o peito, considerada imprópria para a mulher”.
Mulheres, ergamos os peitos e arregacemos as mangas! Se a causa do nosso prazer não é justa me escrevam dizendo o que é.
Agora temos a internet, com várias referências, brinquedos, artigos tecnológicos, vibradores com USB etc. Mas ainda vale usar a imaginação, a trepidação do ônibus, o braço do sofá, o travesseiro, aquele creminho, aquele objeto da cozinha – separado só para isso, aquela pelúcia, os dedos, o frasco de desodorante, enfim, a criatividade nos aproxima do infinito. Só não vale esquecer de trocar experiências com as amigas boas, as sobrinhas, filhas, mães, avós, irmãs…
Está lançada a campanha: Democratize a Siririca!
E, não esqueça, se esta for uma palavra esculachada demais para o seu repertório de Diva, eu encontrei uma boa opção, título de dissertação defendida na Universidade de Coimbra: “Ménage à moi”. Achei chique.
Eu gosto de siririca e gosto da palavra, pois ela desmitifica e populariza. Aliás, existem mitos muito interessantes sobre masturbação, mas fica como tema para o próximo Esculacho.