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Desafio LGBT com candidatxs às eleições 2014
Estivemos no lançamento do manifesto por políticas públicas inclusivas. Por Gui Mohallem
Na última quarta-feira, dia 03 de setembro, foi lançado o Desafio LGBT para as Eleições 2014, que aconteceu no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo, na capital paulista). O evento foi organizado pelos coletivos Pedra no Sapato, Juntos, RUA, Juventude do PSTU e pelos candidatos a deputado federal Bill Santos e a deputado estadual Todd Tomorrow. Nós da Geni fomos lá conferir o debate, que teve presença de dois candidatos à presidência e de ativistas importantes como Daniela Andrade, Laerte Coutinho e Maju Giorgi.
Para um debate acontecer efetivamente, ele precisa de opiniões divergentes, o que não era exatamente o que acontecia ali. Mas a mesa foi boa, com falas mais ou menos complementares.
O mestre de cerimônias foi o cantidato a deputado federal Bill Santos, que trazia leveza e humor a assuntos bem sérios, sem abrir mão do bom pajubá.
Falando em nome das Mães pela Igualdade, Maju Giorgi apresentou dados estarrecedores: segundo ela, a expectativa de vida da população LGBT no Brasil é de apenas 36 anos. Como é possível não haver políticas públicas direcionadas a um segmento da população tão ameaçado? Para que vocês tenham ideia do tamanho das atrocidades que são cometidas contra a população LGBT no Brasil, recomendamos a leitura do Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil 2012-2013.
Zé Maria, candidato à presidência pelo PSTU, declarou o apoio aos direitos LGBT como parte de uma política de direitos humanos de seu partido, e assinou a carta compromisso com a luta pelos direitos civis LGBT.
O candidato a governador pelo estado de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni, que é jornalista e cartunista, teve uma ação reflexiva interessante. Contou como durante muito tempo de sua juventude “para desqualificar uma pessoa tinha feito uma charge dela desmunhecando”.
Nessa hora, Laerte gritou do fundo: “Eu também!”. “Era uma idiotice minha! Não tinha noção do tamanho do dano que poderia causar”, reconheceu Maringoni.
A ativista trans* Daniela Andrade disse que a prostituição é um dos maiores estigmas da população transexual, sobretudo por falta de acesso à educação e ao mercado de trabalho formal. Daniela ressalta, contudo, que não vê problema algum na prostituição, que, aliás, deveria ser regulamentada e reconhecida como profissão, desde que seja uma escolha e não a única alternativa de sobrevivência das transexuais.
A candidata à presidência da república do PSOL, Luciana Genro, também fez uma intervenção bastante engajada, declarando que acreditava que os “homofóbicos eram enrustidos”, pois para ela era difícil não compreender a origem de tanta violência e tanta agressividade”. Essa fala arrancou risos da platéia de quase 400 pessoas reunidas ali.
Daniela Andrade, que não havia se manifestado ali naquela ocasião, reagiu fortemente em sua página no Facebook, postando o seguinte comentário:
“Eu discordo completamente da afirmação da Luciana Genro de que os homofóbicos seriam gays enrustidos.
É o mesmo que isentar todos que não sejam gays da prática homofóbica, dado que para ser homofóbico, necessariamente estaríamos falando de alguém gay.
Acho que é até uma ofensa aos gays essa afirmação, uma vez que os coloca no mesmo nível de seus carrascos. Ou como se seus carrascos fossem apenas eles mesmos, culpando-os pelas mazelas que sofrem: não teriam educado os próprios gays devidamente, caso assim fosse, não teríamos homofobia.
Há pessoas homofóbicas de todas as orientações sexuais, pois a ignorância e o preconceito atinge a todos os grupos sociais. Todos nós nascemos em uma sociedade homofóbica, somos constantemente instados a tratarmos homofobia com naturalidade, tratar gays como inferiores, é claro que será muito fácil encontrar pessoas homofóbicas.
(…)
Num ato que simboliza muito bem esse diálogo que se abriu com a comunidade LGBT, Luciana respondeu à ativista, reconhecendo seu equívoco.
“Tens toda razão, Daniela. Minha intenção não foi isentar ninguém. Além disso, generalizações são sempre injustas. Vamos seguir a luta! Obrigada pela contribuição ao meu discurso. Vou ser mais cuidadosa! Um beijo! “
Os principais pontos do Desafio LGBT assinalados pelos candidatos foram a climinalização da homofobia, a aprovação da Lei de Identidade de Gênero João Nery, a aprovação de uma lei que garanta o casamento civil igualitário, a desobstrução da adoção por LGBTs, serviços direcionados na área da saúde, entre outros.
Com o objetivo de auxiliar no encaminhamento dessa agenda e promover a circulação dos nomes dos políticos engajados com questões da comunidade LGBT, foi lançado, no dia 8 de setembro deste ano, o site #VoteLGBT, que lista os candidatos declaradamente compromissados com essas pautas em seu material de campanha. O site, suprapartidário e de abrangência nacional, pretende ajudar a aumentar a representação LGBT no parlamento e nas assembleias estaduais, o que afetará diretamente nossas possibilidades de obter avanços em termos de políticas públicas.
Participe você também, seguindo a página do #VoteLGBT no Facebook. Ajude a divulgar! Essa iniciativa tem o objetivo de mudar a atual ausência de debate e difusão de elementos da pauta LGBT, mas só vai funcionar se a gente conseguir divulgar!
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Foto: Gui Mohallem.
Ilustração: Cecilia Silveira.