Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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Fim de festa da democracia

As eleições passaram, mas a ressaca ficou

 

Publicado em 09/10/2014

 

 

 

E o primeiro turno das eleições passou… E passou daquele jeito, deixando rastros de acusações, promessas de terceiras vias, manchetes/propagandas de riscos de ataque à Bolsa, aos bancos e às mesas brasileiras. No horizonte do ano que vem, o Congresso Nacional mais conservador do período pós-1964. E, à frente e atrás, discursos de ódio como o do candidato à presidência da República (!!) Levy Fidelix, no debate da Rede Record, em 28/9, incitando que “a maioria” (ou seja, ele e os colegas dele) lute contra “a minoria” (ou seja, a gente) e convocando, em rede nacional, a um genocídio contra a população LGBT.

 

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As palavras criminosas de Fidelix, que ele insiste em chamar de “opinião”, são, na realidade um discurso de ódio que o coloca em evidência para uma parcela do eleitorado que vê a comunidade LGBT como uma ameaça às suas famílias. Ameaça esta que deve ser combatida, já que ser LGBT, aos olhos do infelix, significa não fazer família, assim como significa ser pedófilo.

 

Salvem as crianças!

Por esses e outros absurdos discursos de baixíssimo nível, articulados para arrebanhar seguidores que procuram um bode espiatório para descontar sua raiva em relação a, entre outras coisas, o próprio sistema político que os sufocam, realizamos uma tradução especial “Quem defende a criança queer?”, de Beatriz Preciado. Ela nos coloca em outro ponto do debate. Conservadores teimam em proteger a sagrada família, que não existe, mas quem defende as crianças, mães e pais das ideias conservadoras que impõem regras de como devemos viver e amar?

 

E, já que em outubro se convencionou comemorar o Dia das Crianças no Brasil (costume consolidado a partir de campanhas da fábrica de brinquedos Estrela e de amigxs empresárixs), rebatemos a criança normatizada, generificada e prematuramente consumidora com nossas representações alternativas de infância, estreando, no próximo dia 12, a Turminha da Geni – uma coluna em quadrinhos pensando nas crianças que fomos, que gostaríamos de ter sido, que queremos que possam existir sem sofrer as consequências de um mundo heteronormativo, machista, racista e LGBTfóbico. Chupe um pirulito e nos aguarde!

 

Além disso, um texto de alunas de ensino médio sobre sexualidade e identidades sexuais compreendidas através das normas e poderes mostra que não é preciso ser maior de idade pra enfrentar os “assuntos cabeludos” de Judith Butler e Michel Foucault. Afinal de contas, quanto mais pelo, cabelo e peruca aparecer nesse mundo careca, melhor.

 

 

Urnas, ruas e gingados

 

 

Nossa entrevista do mês é com Jaime Parada, um dos políticos gays mais atuantes do Chile e primeiro vereador LGBT eleito no país. Ele nos conta um pouco sobre o cenário chileno e sua relação com países da América Latina. Sobre o cenário brasileiro, Marcos Visnadi apresenta um perfil da Frente Parlamentar Evangélica, normalmente referida como “bancada evangélica”, e um relato da campanha #VoteLGBT. Andrea Azevedo fala sobre as mulheres no poder Executivo e Lia Urbini comenta os plebiscitos brasileiro e escocês, problematizando os sensos comuns sobre representação, apatia e atraso político.

 

Fora da política eleitoral, mas nem por isso política menor, Eliel Cruz pensa sobre personagens bissexuais na televisão estadunidense, ressaltando a importância da mídia na afirmação da sexualidade oficial. Juliana Bittencourt chega à Colômbia com a Caravana Climática e apresenta o trabalho do coletivo de ativismo audiovisual Al Borde, que alia gênero, transgênero e direitos humanos; a militância negra e camponesa, somada com a Alianza de Mujeres del Putumayo, contra o massacre no campo, legitimado pela guerra ao narcotráfico. Resistências sob o fogo cruzado das Farc, de exércitos colombianos e estrangeiros.

 

Comemorando parcas conquistas frente ao grande avanço conservador no Parlamento, restam alguns segundos turnos para tentar cavar um comprometimento maior com os setores minorizados, páreo duro enquanto xs candidatos não rompem de fato com a concentração de poder e renda. Em paralelo, na rua, na chuva, na fazenda, a gente toca a nossa luta e a nossa política, que não se restringe às urnas, mas está nas ruas e nos gingados todo os dia.

 

 

Coletivo Geni, outubro de 2014

Ilustração de capa: Antonio Novaes

Ilustração editorial: Carolina Menegatti

 

 

 

EDIÇÃO DE TEXTO

Aline Gatto Boueri
Carolina Menegatti
Cecilia Rosas
Cícero Oliveira
Pedro Pepa Silva
Marcos Visnadi

 

EDIÇÃO GRÁFICA

Tiago Kaphan

 

COMUNICAÇÃO E REDES SOCIAIS

Alciana Paulino
Aline Gatto Boueri
Carolina Menegatti
Marcos Visnadi

 

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Bruno O.
Tiago Kaphan

 

ILUSTRAÇÕES

Aline Sodré
Bruno O.
Cecilia Silveira
Emilia Santos
Gunther Ishiyama
Larice Barbosa
Mandah Gotsftitz
Nara Isoda

 

ILUSTRAÇÃO DA CAPA

Antônio Novaes

 

PARTICIPAM NESTE NÚMERO

Andrea Azevedo
Antônio Novaes
Bruna Coelho
Fábio Zanoni
Fernando Sepe
Eliel Cruz
Giulia Garcia
Jaime Parada
Juliana Pedroso
Nathalia Domingues
Sophia Pinheiro
Suen Andrade

 

AGRADECIMENTOS
Fábio Martins, Beatriz Preciado, Jaime Parada

 

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