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Activia, Cecilia Silveira, falta de noção, Faróis Acesos, MORRA, Neusa Sueli, número 16, Surra de 4Xana
FARÓIS ACESOS | A humanidade toma Activia demais
A humanidade devia parar de tomar Activia, porque o mundo já não tem mais onde guardar tanta merda. Por Neusa Sueli
Tento ter algum tipo de fé na humanidade, mas a gente vê umas coisas que realmente… A falta de bom senso de vocês é tamanha, que já me considero uma ateia social também. Olha só a quantidade de absurdos que eu fui obrigada a presenciar no mês passado, gente:
#ocupatudo: São João nem sempre é festa…
No último dia 16 de setembro, um grupo de aproximadamente 200 famílias da chamada “Ocupação São João”, no centro de São Paulo, foi violentamente expulso do pela Polícia Militar do Estado.
Há mais de seis meses instalados num dos milhares de prédios abandonados da capital paulista, o edifício do antigo hotel Aquários foi palco de uma das cenas mais horripilantes no mês passado na capital: bombas de gás lacrimogêneo para todo canto, policiais batendo em senhoras, empurrando crianças, prendendo moradores e agredindo-os com cacetetes. Numa palavra: o horror.
Aquele prédio, que nunca foi efetivamente inaugurado, estava fechado há 10 anos. Isso mesmo: DEZ ANOS SEM UMA ALMA VIVA ALI. Você (se tiver noção) deve estar se perguntando: “Mas por quê?”. A resposta é simples, meu povo: provavelmente seu proprietário, o empresário Ricardo Pimenta, estava aguardando um novo boom da especulação para que o imóvel se valorizasse e ele se tornasse uma pessoa ainda mais rica.
Enquanto isso, nas redes antissociais, uma série de pessoas – xs ardorosxs defensores do(s) bem(ns) e da (in)justiça – aplaudiam a ação da PM, dizendo que aquele imóvel tinha dono, que aquilo era propriedade privada e que xs “invasorxs tinham que ser expulsxs”
Olha, eu acho que faz todo sentido vocês defenderem a propriedade privada, porque são um bando de merdas, mesmo. Quando eu ouço vocês falando de propriedade privada, penso que estão só defendendo seus habitats naturais. Vocês são um monte de cocô, uma montanha, maior que o Everest. E nem para adubo servem.
ONDE É QUE JÁ SE VIU JOGAR BOMBA DE GÁS EM IDOSO? EM CRIANÇA? EM GESTANTE? EM SERES HUMANOS?
Como é que vocês têm coragem de defender isso, minha gente?
COMO?!
Eu estou até hoje sem dormir vendo as imagens das pessoas desesperadas correndo e chorando por causa do gás lacrimogêneo e vocês vêm aqui falar de PROPRIEDADE? Um lugar vazio, ocioso que um maldito empresário está esperando valorizar para ter mais lucro enquanto milhares de pessoas – que se propõem inclusive a comprar o imóvel financiado (e por um preço justo) – estão aí sem abrigo. São João para mim, a partir de agora, pode ser tudo, menos festa.
Vou desapropriá-los da falta de noção, isso sim! Vou pegar cada um de vocês, enfiar na privada de que tanto gostam e dar a descarga.
Emma, Emma, Emma!
No dia 21/09, a atriz Emma Watson, aquela que segurava a varinha e fazia mágica em filmes adultos [ops, essa sou eu – risos abafados] infantis, que foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade pela ONU, fez um discurso bem legal durante o lançamento de uma campanha chamada HeforShe, cuja finalidade é promover a igualdade entre os gêneros no mundo.
Ela podia estar roubando, matando, fazendo reality show, participando da dança dos famosos, pompoarismo ou sendo jurada em programa de calouros, mas preferiu ir apoiar a luta pela igualdade de gêneros no mundo. Uma salva de palmas, minha gente!
No entanto, vale ressaltar que há alguns (vários) problemas no discurso de Emma, pois, como algumas feministas espanholas lembram bem, ela diz no discurso que a palavra feminismo é “incomoda”. Incômodo, darling, é pelo anal crescendo depois de depilação mal feita; feminismo, bee, é vida. Deal with it.
Bem, como o ser humano não deu certo e tem gente que em vez de espermatozoide parece ter sido fecundada por micróbio, bastou a menina se engajar numa luta mais que justa para um bando de hackers machistas babacas (desculpem o pleonasmo) ameaçar divulgar fotos dela nua.
Nem preciso dizer que fiquei possessa com essa história, né gente?
Tenho um profundo ódio – rancor, mágoa, fúria [insira aqui seu sentimento negativo] de gente que usa a nudez como forma de maltratar, torturar o outro, sobretudo a nudez feminina. Uma mulher nua, minha gente, é só uma mulher nua. PONTO. Deixem nossos corpos em paz!
Minha vontade ao saber da notícia foi virar um vírus Eguinha Pocotó de Troia, me autoinstalar no computador desses imbecis e encher a cara deles de porrada, assim que ligassem os aparelhos.
Mas, como os intestinos mundiais tomam Activia regularmente e não param de trabalhar nunca, mais merda apareceu em seguida, o que me deixou AINDA MAIS PUTA. Na realidade, essa suposta ameaça era uma campanha, financiada pelos agentes de diversas celebridades americanas, depois dos vazamentos de fotos das atrizes Kate Upton e Jennifer Lawrence, entre outras personalidades. A intenção deles era fazer com que o site 4Chan, que já havia publicado fotos não autorizadas da cantora Rihanna nua, também fosse tirado do ar.
Vou dar é uma surra de 4Xana em vocês, isso sim!
O ser humano levou séculos desenvolvendo linguagem articulada, associando significante e significado, inventando a escrita, o pensamento abstrato, desenvolvendo Real, Simbólico e Imaginário para ter essa ideia brilhante?
Vocês queriam tirar do ar os machistas do site, mas isso resolve o machismo na vida? De que adianta tirar o site do ar se a mentalidade dos hackers que o frequentam e alimentam não muda?
Será que não se deram conta do tamanho do problema que isso gera? Ao “chamar atenção” para um problema (o da invasão de privacidade das atrizes citadas), expuseram uma outra pessoa que havia acabado de fazer um discurso feminista, pró-igualdade de gêneros. Será que sou só eu que vê que essa atitude no fundo só reforça que o discurso feminista é uma “ameaça” quando, na realidade, ele representa nada mais do que justiça e humanidade para todxs?
O tiro, seus imbecis, saiu pela culatra. Todas as mulheres feministas que conheço ficaram revoltadas com a divulgação das fotos de Lawrence e Upton e escreveram sobre isso, se manifestaram sobre isso, se revoltaram com isso. Todas elas, sem exceção, partiram em defesa das companheiras. Agora não vi nenhum agente de celebridade dando declaração ou indo fazer protesto e, se bobear, vocês são tão do pântano que são capazes de fechar contratos de capas de revistas masculinas para essas mesmas atrizes.
Acho que está na hora de voltar a ser monocelular, sabe. Essa vida de muitas células, órgãos e sistemas não funcionou para vocês. Cambada de idiotas!
O Sexo e as Negas
Nem tinha estreado ainda e a série “O Sexo e as Negas”, escrita por Miguel Falabosta, já estava gerando a revolta da população afrodescendente no Brasil inteiro – e com toda razão.
Com referência direta ao seriado americano Sexy and the city (cujas personagens são todas brancas, diga-se de passagem), “O Sexo e as Nega” trata do cotidiano de quatro moradoras da periferia do Rio, e propõe-se a “tratar de assuntos tabu como sexo e preconceito”. Assuntos tabu para quem, cara-pálida? Vocês não têm internet, não? Ah, e tudo isso escrito e “problematizado” por um homem branco (mas que se sente um “negro de alma” – diz ele que tem até vários amigos de cor, vejam só vocês) e dentro de uma emissora que é um exemplo de democracia racial.
Essa múmia loura, tinha um personagem que era um aparelho excretor que só sabia criar bordões sobre a população pobre nos anos 90, não tem preconceito, gente: ele só quer “falar da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema”, inclusive. Mas, como são negras, é claro que não estariam lá, né sua anta? Agora entendi o nome de sua personagem, “Caco Antibes” no programa Sai de Baixo. Realmente, tá de parabéns #sqn
Eu não vou ficar aqui argumentando contra esse imbecil e todas as declarações idiotas que ele deu, porque gente muito mais qualificada, como as meninas do Blogueiras Negras, já o fez.
Mas não dava para não falar desse assunto, porque é realmente algo inadmissível. Mesmo sem conhecer profundamente a série dos EUA (de que eu nunca gostei, mas até aí é só minha opinião), uma simples comparação entre os dois títulos já mostra algo muito significativo: se no programa americano o que estava em questão era a associação entre sexo e a cidade, aqui o foco muda para sexo e a cor das protagonistas, o que, a gente sabe, é sempre um problema: a mulher negra no Brasil é sempre vendida como mercadoria sexual – no cinema, na literatura, no Carnaval.
Caco Antibes adorava dizer que pobre tem mania de fechar saco de açúcar com pregador e pôr no armário. Tá aí uma realidade. Mas eu, que sou pobre, venho aqui com toda a humildade, para te dar uma dica: ponha o prendedor no nariz, feche a boca (a humanidade agradece) e MORRA.
Beijos para vocês, queridxs!
Ilustração: Cecilia Silveira
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