coluna
Cecilia Silveira, coluna, Faróis Acesos, Neusa Sueli, número 5
FARÓIS ACESOS | Ensaio sobre a desigualdade de noção entre os homens
Já passou da hora de rebobinar a humanidade e gravar por cima, sabe? Por Neusa Sueli
No cu dos outros é refresco; no nosso, é melhor ainda
No início do mês de outubro, esse pessoalzinho SUPEROCUPADO das redes sociais entrou em polvorosa. Havia sido divulgado por meio de um aplicativo de smartphone um vídeo em que uma jovem de Goiânia, junto com um energúmeno da espécie masculina (indivídUÓ que divulgou o vídeo sem conhecimento e consentimento prévio da moça) faz o que todas nós, Genis, adoramos e fazemos pelo menos uma vez a cada refeição: SACANAGEM.
Num momento “vem nimim que eu sou fogosa” (essa é das minhas!), a moça, que ficou conhecida na mídia como “Fran”, une os dedos indicador e polegar, olha lascivamente para a câmera do celular e solta um “Quer meu cuzinho apertadinho?” [<3] – algo que eu faço todos os dias de manhã para o pessoal no ponto do ônibus, diga-se de passagem.
Depois disso, esse idiota (um tal de Sérgio Henrique de Almeida Alves) jogou o vídeo na internet para expor a jovem: repassou para seus amigos (gente imbecil é igual Greemling: nunca anda sozinha, e se jogar água eles se multiplicam), que repassaram para seus outros amigos, e o vídeo viralizou. Em seguida, os amigos desse imbecil saíram fazendo fotos “engraçadinhas” imitando o gesto de Fran no vídeo – superdivertidos eles, sabe: parece que nunca foram apresentados a um ânus (bastava se olhar no espelho em casa, queridos), porque ficaram deslumbrados com o ocorrido.
O resultado é que (mais) uma mulher – maior de idade, livre, dona do próprio corpo e do próprio nariz e pagadora das próprias contas – teve que sofrer o peso de toda a carga de machismo dessa coisa linda que é nossa sociedade brasileira. Largou a faculdade, o trabalho (a pressão, diz ela, estava insuportável) e passou a ser julgada por milhares de pessoas desconhecidas (mas que TÊM CERTEZA QUE PRECISAM OPINAR SOBRE A VIDA DOS OUTROS).
Pululavam o tempo todo comentários (boa parte deles de mulheres) do tipo “Não passa de uma vadia”, “Ela não se dá ao respeito”, “Puta!”, “Ela falou que queria fazer anal com cara de atriz pornô” – enfim, vou poupá-los de toda a cantilena linda que só essas mentes brilhantes conseguem conceber. E tudo isso porque Fran ousou expressar, mostrar que gosta de sexo, de gozar – como todxs nós, diga-se de passagem.
E tem gente que ainda acha o feminismo obsoleto desnecessário nos dias de hoje…
[Pausa para fazer a manutenção da prega rainha]
Laroyê, Pombagira: me leva de volta, por favor?
Eu nem ia me pronunciar, porque acho esse caso muito despropositado, já que todo mundo todo fim de semana faz o que ela fez. Nada de novo no front, então. Agora não venham começar a rir dos outros com piadas sexistas, porque AÍ A COISA PEGA. VOCÊS ESTÃO PENSANDO O QUÊ?!
Estou aqui refletindo, cá com os meus mamilos: qual é a grande novidade de alguém dar o cu em 2013, hein? Aparentemente em Goiânia (e no Brasil) o pessoal não faz isso, né? Se ainda tivessem que ressuscitar Moisés para abrir o orifício, eu entenderia a celeuma; mas esse povo definitivamente nunca ouviu falar do centro de São Paulo, da rua Vieira de Carvalho, sabe. Vocês são muito atrasados: aqui o pessoal está fazendo isso desde antes do Descobrimento, gente – e todo mundo acha UMA D-E-L-Í-C-I-A, scusi (piscadinha – adivinha onde? – marota para xs leitorxs).
PRESTE ATENÇÃO, SEU BANDO DE SEM NOÇÃO! O corpo é dela, o cu é dela e o prazer – durmam com essa – é dela também! Moisés devia descer aqui e abrir a cabeça de vocês, isso sim! Vocês são realmente ridículxs e eu DUVIDO que algum daqueles e daquelas imbecis que tentaram ridicularizar a Fran poderia colocar “apertadinho” no final daquela linda frase. Cambada de frouxos!
Bolsonaro: Fora daqui!
O comediante e jornalista inglês Stephen Fry realizou um feito notável e uma tarefa inglória: refiro-me ao documentário Out there (exibido pela BBC), no qual ele viaja pelo mundo mostrando a ascensão da homofobia, entrevistando “personalidades homofóbicas” de diversos países e continentes.
[Fry, seu lindo: só queria dizer que estou separando aqui uma calcinha e sutiã Valisère para você. Luv ya! (scusi, falo inglês do Bronx também). Te devo uma big benga, darling!]
Em sua escala pelo Brasil, o jornalista encontra Jair Bolsonaro, com o qual, aliás, faz uma das piores entrevistas que já vi em toda a minha vida, na qual abundam ódio e preconceito, vomitados calmamente e sem nenhuma sombra de culpa.
Eu juro a mim mesma, a cada edição da Geni, que não vou falar deste ser inumano, que não vou dar Ibope para ele, mas confesso que são tantos os absurdos que vejo, que não consigo ficar calada. Se fosse eu entrevistando aquela corja, sentava a mão na cara de todxs xs entrevistadxs – o próprio Stephen Fry parece ter tentado o suicídio, de tão deprimido que ficou depois de tal empreitada.
Fry pergunta ao deputado federal brasileiro se ele não acha que há algo profundamente errado com a sociedade brasileira, citando como (triste) exemplo o crime de ódio de Alexandre Ivo – garoto de 14 anos brutalmente assassinado por um grupo de skinheads no Rio de Janeiro, em 2010. A conversa de Fry com a mãe do menino é algo que eu não consegui superar até agora, de tão lancinante.
Copiem só o que aquela anta nacioanal responde para o entrevistador: “Há grupos que querem usar esse assassinato, que pode não ser por conta da ‘opção’ [sic] sexual dele, e transformam isso numa bandeira”. Eu honestamente nem vou transcrever o resto, porque ouvir isso me deu vontade de chorar. Mas logo depois meus ovários deram um triplo escarpado de revolta e eu me reergui. Quase dei três voltinhas e virei a Mulher Maravilha para sair voando até o Rio para sentar a mão na cara desse horroroso.
Minha gente, esteriliza em nome de Jesus, faz favor. Não deixa ele procriar de novo, eu imploro! A prova maior de que deus não existe é a existência desse ser.
“Nós não gostamos dos gays no Brasil”, afirma ele sem pestanejar. A gente não gosta é de você, seu esperto ao contrário! Passa na minha frente para você ver! Vou fazer a gilete gritar nessa sua cara, vou tocar todo o hino nacional com ela na sua garganta, filhote do Demo!
Xs editorxs aqui vieram me perguntar onde é que estava a minha coluna do mês, mas vou enfiar uma coluna você vai ver onde! Coluna jônica, ainda por cima, CHEIA DE REENTRÂNCIAS – seu encosto do trono de Satã!
Atualmente meus livros de cabeceira são A crítica da minha mão na sua cara e Ensaio sobre a desigualdade de noção entre os homens. Já passou da hora de rebobinar a humanidade e gravar por cima, sabe?
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Desde o mês passado o pessoal da Geni criou um tal de Tumblr, para que a gente pudesse se comunicar just in time (acho chique usar expressões em outro idioma, désolée). Enfim, o treco foi criado e faz favor de ir lá acessar, que o acesso é liberado comigo, vocês sabem: http://neusasueli.tumblr.com.