Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618

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ESCULACHO | Muitas frentes, mas e quem é um nó?

Onde militam as pessoas que concentram as “marcas da diferença”? Por Lucy Lima

Eu sou mulher, negra, pobre, vagabunda, feminista, bissexual, gorda, agnóstica e torço pra Argentina. Piada? Não, essa sou eu. Muita diversidade para uma pessoa só? Pode ter certeza que não sou a única. Só a Geni para dar espaço para esse tipo de gente.

alci2Sempre tive dificuldade em encontrar um espaço mais definido para a militância, mas sentia a necessidade de me unir a um grupo. Sei que tenho o privilégio de viver num tempo em que já começamos a sentir os resultados de diversas lutas históricas dos movimentos das ditas minorias. Queria estar junto, fazer parte de algo e tornar a minha participação realmente efetiva.

Mas as minhas curtas experiências com os clássicos movimentos não foram muito felizes. Fui hostilizada no movimento negro por uma série de motivos. Sei que o ocorrido não é a posição oficial, mas ele é feito de pessoas, e algumas delas ainda estão impregnadas de preconceitos.

No movimento feminista, fui um pouco mais contemplada, mas ainda não muito. Não fui hostilizada, mas não encontrava interlocução verdadeira. Já bati muita boca defendendo a pornografia e aprendendo a lidar com algumas acostumadas com sucrilhos no prato.

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No grupo para “pessoas obesas” era só a pregação da docilização dos corpos: seja saudável, coma isso e não aquilo, faça exercícios físicos etc. Pura violência.

Na esquerda tradicional… não preciso nem dizer o quanto esse povo é recalcado, não é? E essa história de partido não é a minha, definitivamente. Já o movimento LGBT é onde me sinto mais à vontade, mas, por ser mais vagabunda do que gay, fico me sentindo meio outsider.

Durante muito tempo acreditei que meu engajamento só seria verdadeiro se fosse institucionalizado, tivesse logo, bandeira, nome, CNPJ etc. Existem muitas frentes de luta e eu sou um nó. Logo, o melhor foi escolher as causas mais objetivamente, isto é, se há um racista, sexista, homofóbico na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, eu participarei da mobilização; se há como pressionar o Estado pela liberação do aborto, estarei lá. E assim por diante.

Onde militam as travestis negras? Os cadeirantes gays? As lésbicas da perifa? Acho que como eu: na vida. Saindo todos os dias na rua, se impondo em cada momento do cotidiano e, sempre que possível, se reunindo às/aos demais para reivindicar seus direitos e lutar por justiça.

A efetividade da minha luta depende de mim.

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Lucy Lima é mal resolvida (como muitas), está na pista (como tantas) e vive uns dramas (como todas). Tenta se deslocar das expectativas principescas, às vezes com sucesso, às vezes sem.
Lambança é sua vida. Resolveu escrever e viu que tudo não passava de ESCULACHO.

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