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Católicas pelo Direito de Decidir
Nenhum padre ou bispo – e nem mesmo o Papa – podem ‘mandar’ na consciência de uma pessoa.
O que querem as Católicas pelo Direito de Decidir?
Hoje, no Brasil, as Católicas não são somente um grupo de mulheres. Somos, sobretudo, uma corrente de pensamento, presente em quase todos os estados brasileiros. Teimosamente afirmamos, há mais de 20 anos neste país, que é possível ser católica e feminista ao mesmo tempo.
Estamos articuladas com o movimento de mulheres, somos parte desse movimento, e simultaneamente expandimos uma voz católica que entende a sexualidade humana como algo bom, como fonte de vida pra todos. Trabalhamos com o pensamento teológico da própria Igreja Católica e, a partir daí, enriquecemos nossa argumentação em favor dos direitos sexuais e reprodutivos de homens e mulheres.
Em nossos dias, um dos maiores desafios que se apresenta ao movimento feminista é a ação organizada do fundamentalismo religioso, pensamento único que se coloca na política, na vida universitária, constrói organizações e movimentos, e busca representações no Congresso Nacional. Setores de diferentes Igrejas Evangélicas e Católica se unem para impor um pensamento de controle sobre a vida das mulheres, a diversidade das famílias e das vivências da sexualidade. Para que esse pensamento se imponha nas diferentes esferas sociais, os ativistas conservadores não hesitam em utilizar discursos religiosos que possam legitimar e normatizar comportamentos a partir de uma perspectiva ligada à moral sexual tradicional.
Muitas vezes para isso são utilizadas frases bíblicas de forma descontextualizada, um falso discurso de direito à vida, posições agressivas, xingamentos e ameaças às pessoas ativistas que defendem os direitos das mulheres, a efetivação de políticas públicas, o direito à autonomia.
O tema mais controverso é o aborto. Os fundamentalistas levantam uma falsa pergunta: se as pessoas são favoráveis ao aborto. Digo que é uma falsa pergunta porque o que se pretende no feminismo é a legalização do aborto, o que traria para o país, sem dúvida nenhuma, um menor número de mortes maternas e também um menor número de abortos. O que queremos é garantir condições de segurança e saúde quando uma mulher chega a abortar. Os países que implementaram essa lei como, por exemplo, o Uruguai, mostram em suas estatísticas uma queda significativa nos índices de morte materna e número de abortos.
Para tanto, contamos com a legitimidade da teologia católica, que nos ensina há séculos o chamado recurso à própria consciência. No cristianismo, a responsabilidade individual deve ser respeitada e, portanto, as decisões individuais não podem ser impostas por outros. Nenhum padre ou bispo – e nem mesmo o Papa – podem “mandar” na consciência de uma pessoa. A relação frente a temas eticamente difíceis se faz diretamente com Deus. Por isso, afirmamos neste 8 de março que o Direito de Decidir é Sagrado!
Como mulheres católicas, caminhamos em meio ao amplo movimento de mulheres, buscando conquistar direitos e mais dignidade.
Regina Soares Jurkewicz é coordenadora do movimento.
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