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Mãe, atriz, bafônica e engenheira de telecomunicações

Hedy Lamarr, a diva por trás da frase do século: Qual a senha do Wi-fi? Por Andressa Oliveira

 

 

“Qualquer garota pode ser glamourosa. Tudo que ela tem que fazer é ficar parada e parecer estúpida”

Hedy Lamarr

 

 

Nascimento e infância

 

Ela nasceu Hedwig Eva Maria Kiesler, em Viena, em 09/11/1914. Filha de pais judeus,  sua mãe, Gertrud Lichtwitz (sobrenome judeu, quando solteira), era uma pianista de Budapeste, vinda de uma família burguesa. Já seu pai, o diretor bancário  Emil Kiesler, nasceu em Lemberg,  uma cidade do oeste da Ucrânia, próxima à Polônia.

Hedy, como futuramente passou a ser reconhecida,  foi uma criança agitada e falante que adorava atenção, já demonstrando talento para as artes, estudou piano e balé até os 10 anos de idade.

 

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Primeiros trabalhos e o chocante Ecstasy

 

Aos 16 anos, já morando na Alemanha, Hedy começa a atuar em filmes alemães.

Trabalhou com o grande produtor e diretor de teatro austríaco Max Reinhardt,  famoso por suas grandes produções e que já a chamava de a mulher “mais bela da Europa”. Porém, Hedy ficou de fato conhecida quando, no começo de 1933, aos 19 anos, participou do filme de Gustav Machatý, Ecstasy. Um filme tcheco feito em Praga em que ela choca a sociedade fazendo o primeiro nu frontal da história do cinema.

E como chocar pouco é bobagem, tem cena da Hedy correndo nua pela relva,  nadando também desnuda e uma cena “simulando” o ato sexual, com close de orgasmo e tudo mais!

 

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Sobre maridos e fugas

 

No final do mesmo ano, Hedy se casou com  Friedrich Mandl, um austríaco 13 anos mais velho que ela. Dono, presidente e herdeiro da Hitenberger Patronen-Fabrik, uma fábrica de munições que fazia negócios com os nazi-fascistas da época.

Pouco importava para os nazistas que tanto ele quanto Hedy eram de ascendência judaica, afinal os preços e prazos eram melhores que os de outras fábricas.  Mandl era louco e controlador (a ponto de comprar todas as cópias de Ecstasy que apareciam na sua frente, para que ninguém visse sua belíssima e jovem esposa sem roupa).

Ele forçava Hedy a ir com ele a jantares e eventos com a alta cúpula nazista para exibi-la, não só pela sua beleza e pelas joias caríssimas que Hedy ganhava aos montes, mas também por toda a genialidade matemática e estratégica dela. Hedy era exibida em festas, porém, vivia trancada dentro de casa: era proibida de sair, visitar amigos e, principalmente, trabalhar.

 

 

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Já cansada das agressões, proibições, confinamento e preocupada com os rumos das relações de seu marido com nazistas, Hedy decide fugir. Então droga o marido e, com a ajuda de uma empregada, foge levando todas as jóias que ganhou.

Primeiro vai a Paris, onde pede o divórcio, e depois vai para Londres, onde conhece Louis B. Mayer (um produtor de cinema estadunidense nascido na Ucrânia, conhecido por ser um dos fundadores do famoso estúdio de Hollywood Metro-Goldwyn-Mayer). Foi nessa época que trocou seu nome para Hedy Lamarr, em homenagem à estrela do cinema mudo Barbara La Marr, que também foi uma mulher muito a frente do seu tempo e que morreu em 1926, de overdose.

 

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 [Imagens de Barbara La Marr]

 

 

Tio Sam e a grande invenção

 

Chegando aos EUA, Hedy começa a gravar Algiers (1938), o primeiro dos muitos filmes de que participou atuando. Hedy ganha o título de “mulher mais bela do mundo”. E não à toa;  tamanha era sua beleza. Reza a lenda que ela foi a inspiração para a criação da imagem da Branca de Neve dos estúdios Disney.

O aspecto fútil da beleza hollywoodiana  mexeu com sua cabeça. Hedy, em um primeiro momento, se preocupou com o tamanho de seus seios, que não eram grandes o bastante para os padrões de Hollywood. Isso a levou a conhecer George Antheil, criador do Ballet Mécanique, um músico com conhecimentos científicos incomuns. Antheil, mesmo sem ter estudado medicina, havia estudado sobre endocrinologia e escreveu artigos sobre glândulas. Hedy acreditava que poderia aumentar seus seios de alguma forma.

 

 

“Ela tinha um lado supérfluo. Como toda Diva era viciada em cirurgia plástica, tanto que a desfigurou. Mas Hedy tinha outro lado ligado a curiosidade, que culminou na descoberta que fez”

Evânio Alves – autor do livro As Divas na Cozinha

2015-05-04

 

Durante suas conversas, ambos descobriram interesses em comum. Ambos tinham acompanhado de muito perto os horrores da Guerra: Antheil havia perdido um irmão e Hedy  ficou horrorizada com os ataques nazistas.

Certa vez, em frente ao piano alternando as notas e conversando sobre a guerra, Hedy fala sobre um sistema de comunicação com “alternância de frequência” que consistia em: se o emissor e o receptor mudassem constantemente de frequência, somente eles poderiam se comunicar, sem serem interceptados pelo inimigo.

Imagine assim: sua estação de rádio mudando de posição constantemente e seu aparelho acompanhando a alternância, você ouviria a transmissão, mas outros rádios não teriam como sintonizar. Só havia um pequeno (grande) detalhe… Como botar essa po**a pra funcionar direito???

Antheil abraçou o projeto e a solução encontrada por eles veio justamente do Ballet Mécanique: a sincronização entre emissor e receptor seria feita exatamente como ele fez ao sincronizar 16 pianos, usando rolos perfurados.

Transpondo isso para os transmissores e receptores de rádio, eles desenvolveram uma técnica capaz de usar 88 frequências durante uma mesma transmissão, o mesmo número das teclas de um piano de onde surgiu a ideia. O invento recebeu o nome de “Sistema de Comunicação Secreta”.

 

 

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O sistema criado por Lamarr e Antheil foi patenteado em agosto de 1942 por Antheil e “Hedy Kiesler Markey”, por temerem que seu invento não fosse levado a sério se o associassem à Hedy Lamarr, diva de Hollywood.

A versão original era feita para despistar radares, mas a ideia pareceu difícil de se realizar na época. E de fato não se concretizou até 1962, quando passou a ser utilizada por tropas americanas em Cuba, já com a patente expirada.

A tecnologia de salto de frequência desenvolvida por Hedy e Antheil foi implementada em larga escala; não para orientar torpedos e sim para fornecer comunicações seguras entre embarcações envolvidas no bloqueio naval. A ideia de alternância de frequência serve como base na técnica moderna de comunicação por espalhamento espectral, o que garante a confiabilidade dos dados.

Essa técnica é usada hoje em dia nos protocolos Bluetooth, Wi-Fi e CDMA. Apenas em 1997, Hedy Lamarr, então com 82 anos, e George Antheil, já falecido (de ataque cardíaco fulminante, em 1959), foram homenageados com um  prêmio da Eletronic Frontier Foundation, entidade internacional sem fins lucrativos, sediada nos EUA, que luta pelos direitos digitais.

 

 

“A técnica que ela criou permite que o emissor fique transmitindo em frequências variadas e evita que terceiros consigam captar a informação. Isso foi usado na comunicação de guerra e mais tarde nos sistemas celulares GSM, CDMA, e até mesmo no 3G”

Eduardo Turde – presidente da Teleco

Hedy Lamarr foi casada 6 vezes. Em seu segundo casamento, com Gene Markey (entre 1939-41), adotou James Lamarr Markey. Em seu terceiro casamento, com John Loder (entre 1943-47) teve Anthony Loder e Denise Loder. John adotou James e lhe deu seu sobrenome. Depois, Hedy passou 1 ano casada com Teddy Stauffer (1951-52).  Casou-se pela quinta vez com W. Howard Lee, um texano do ramo petrolífero (entre 1953-60) e, por último, casou-se com o advogado de seu divórcio anterior,  o Sr. Lewis J. Boies (casados entre 1963-65).

Por sua contribuição para o cinema, Hedy Lamarr tem uma estrela na Calçada da Fama, no 6247 da Hollywood Blvd.

 

Ladeira abaixo e morte

 

No fim dos anos 1960, já sem trabalhar e desfigurada pelas plásticas que fez ao longo da vida, Hedy passa a se isolar e viver sozinha. Já não permite ser fotografada e sua notória acidez vai ficando cada vez mais evidente: como quando ela recebeu o prêmio da Eletric Frontier Foundation em 1997 e em uma entrevista por telefone responde: “O que eu ganho com isso? Não tenho motivos para estar orgulhosa desse prêmio.”.

 

“Minha mãe nunca recebeu nem um dólar sequer por sua invenção e nem tampouco sua família”

Denise Loder-DeLuca. Filha.

 

 

Hedy foi presa duas vezes por furto (nenhuma das prisões resultou em condenação) e morava em uma pequena casa em Altamore Springs, Flórida, já no final de sua vida.

Hedwig Eva Maria Kiesler faleceu em 19 de janeiro de 2000, em sua casa. Seu filho James levou suas cinzas para a Austria, espalhando-as na floresta Wienerwald, conforme seu desejo final.  Hedy Lamarr entrou para a história, não apenas como mais um rosto lindo da era da MGM, mas também como uma importante personagem da tecnologia, deixando o mundo mais belo e muito mais conectado!

 

 

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Filmologia e legado

 

Hedy Lamarr filmou quase incessantemente e tem um portfólio de dar inveja a qualquer atriz atual:

 

– Das Geld liegt auf der Straße (Money on the Street, 1930)

– Die Frau von Lindenau (Storm in a Water Glass, 1931)

– Die Abenteuer des Herrn O. F. (The Trunks of Mr. O. F., 1931)

– Man braucht kein Geld (We Need No Money, 1932)

– Ekstase/ Symphonie der Liebe (“Êxtase”, 1933)

– Algiers (“Argélia”, 1938)

– Screen Snapshots: Stars at a Charity Ball (curta, 1939)

– Hollywood Goes to Town (curta, 1938)

– Lady of the Tropics (“Flor dos Trópicos”, 1939)

– I Take This Woman  (“A Mulher Que Eu Quero”, 1940)

– Boom Town  (“Fruto Proibido”, 1940)

– Comrade X (1940)

– Come Live with Me (1941)

– H.M. Pulham, Esq. (1941)

– Ziegfeld Girl (“Este Mundo é um Teatro”, ou “A Vida é um Teatro”, 1941)

– White Cargo (1942)

– Tortilla Flat  (“Boêmios Errantes”, 1942)

 – Crossroads (1942)

– Show Business at War (curta, 1943)

– The Heavenly Body (1944)

– The Conspirators (1944)

– Experiment Perilous (1944)

– Her Highness and the Bellboy (1945)

– The Strange Woman (1946)

– Dishonored Lady (1947)

– Let’s Live a Little (1948)

– Samson and Delilah (“Sansão e Dalila”, 1949)

– A Lady Without Passport (“A Mulher Sem Nome”, 1950)

– Copper Canyon (1950)

– My Favorite Spy (1951)

– The Eternal Female (inacabado, 1954)

– Loves of Three Queens  (1954)

– The Story of Mankind (1957)

– The Female Animal (1958)

 

 

 

Leia outros textos de Andressa Oliveira.

Ilustrações: Pablo Augusto

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